quinta-feira, 26 de junho de 2014

“Quando criamos algo, mergulhamos num espaço infinito de possibilidades e inquietações que nos remete a um espaço de transição indefinido entre o real e o imaginário”
Com dez exposições no currículo, Ilca Barcellos (Pelotas,RS) graduou-se em biologia na Universidade Federal de Santa Catarina, onde construiu sua carreira
de professora e lecionou no curso até 2005. Foi a partir da aposentadoria que Ilca despertou sua atenção para o mundo das artes e desde então vem realizando exposições pelo Brasil e pelo mundo. Em uma entrevista exclusiva, a artista discorre sobre seu trabalho, arte, a influência da biologia em suas obras e indica onde visitar exposições de artes em Florianópolis.
1) Você é bióloga de formação e le- cionou na UFSC até 2005. De onde veio a inspiração para começar a fazer arte?
Sou bióloga, com mestrado em botânica e lecionei até 2005, quando me aposentei pela UFSC. Entretanto, no período pós aposentadoria decidi ingressar
na arte. Penso que sempre tive um potencial para as artes, pois sempre gostei de desenhar e de fazer objetos tridimensionais, mas sempre utilizava desta habilidade como instrumento didático, para as aulas de Biologia.

2) De que forma a biologia influen- ciou e influencia nos seus trabalhos artísticos?
Penso que foram tantos anos ob- servando e estudando sobre a vida e os processos biológicos, que fica difícil a gente apagar esta memó- ria, e por isso ela se manifesta no meu processo artístico. Lembro que nas primeiras exposições me apropriava de forma lúdica de conceitos da biologia, como por exemplo, a transgenia e a nomen- clatura científica, para nomear os
bichos – plantas. Entretanto, estou me libertando destas amarras da Biologia e mergulhando muito mais na arte.
3) Sua última exposição foi “Mise en Abyme” na Fundação Cultural Badesc em Florianópolis. Você pode nos falar um pouco dela, qual foi a inspiração, o material utiliza- do e o motivo do nome em francês? Acredito que a ideia para a criação da instalação nomeada Mise en Abyme veio da vontade de fazer grandes trabalhos, que não seriam viáveis para o processo cerâmi-
co devido ao peso , a técnica e a queima. Além disso, posso tam- bém acrescentar as provocações ou cutucadas do meu orientador
e artista visual Fernando Lindote, quando comentava que nāo me via apenas com uma ceramista. Na realidade, deve ser a soma de vá- rias coisas, que culminaram para que eu avançasse no meu processo artístico buscando a interação entre materiais híbridos, no caso do tecido com fibra de poliéster e a cerâmica. O título da expo Mise en Abyme (posto no abismo) vem

Ilca Barcellos
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da literatura e foi utilizado pela primeira vez por André Gide no sentido de expressar uma nar- rativa dentro de outra narrativa. No meu caso, me aproprio deste termo para explicar esta instalação híbrida que traz objetos/esculturas dentro de outros objetos/escultu- ras. Nesta exposição, faço esta re- lação simbiótica entre os materiais utilizados e suas formas. Temos o fofo /amorfo do tecido que passa a ser tensionado pelo rígido/ defini- tivo das garras em cerâmica, que se anastomosam estabelecendo inúmeros arranjos com as formas de tecido. No entanto, apesar das diferenças entre os materiais existe uma identidade, que se desvela pela cor, pelas formas e pela orga- nicidade. Tanto na fatura dos ob- jetos em tecido costurados a mão como na montagem da instalação temos o jogo, o acaso que se ma- nifesta, pelas inúmeras possibili- dades de contato e de tensão entre os objetos e pela reconfiguração e rearranjo da instalação em função do espaço expositivo.
4) O que é arte para você?
Criar é algo vital que me dá senti- do à vida. Quando criamos algo, mergulhamos num espaço infinito de possibilidades e inquietações que nos remete a um espaço de transição indefinido entre o real e o imaginário.
5) Quais lugares em Florianópolis você indica para quem quer visitar uma exposição de arte? Infelizmente, Florianópolis nāo tem muitos espaços culturais frente a demanda de artistas. Como locais privilegiados para expor podemos citar: MASC, BADESC, MVM, MHSC, MIS, Galeria Pedro Paulo Vecchietti, Galeria Helena Fretta, Coletivo artístico Na Casa, Galeria Ponto da Arte, entre outros.
Ilca na abertura da exposição Mise en Abyme, na Fundação Cultural Badesc, em abril de 2014
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